sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Anticomunismo Patológico

O texto a seguir foi publicano na edição de ontem (16/01/14) no Jornal Voz:

No último dia 11 o Historiador Sérgio da Costa Franco em seu artigo “História de Prestes e Memorial” publicado no Jornal ZH, reverberou todo o seu anticomunismo patológico ao chamar de “ideia tão desarroada” a inauguração de um busto em homenagem ao camarada Luiz Carlos Prestes, e que seria uma afronta à a maioria dos portoalegrenses. Quando foi realizado este plebiscito? Quantas pessoas participaram.?
O articulista deveria ao menos dirigir-se com mais respeito à um homem que lutou contra as discriminações e a ditadura da Primeira República,  indo a favor do povo brasileiro, e também sugerir que se faça um pequeno apanhado sobre o cenário nacional que o Prestes estava inserido, ou quem sabe uma leitura sobre os seus projetos sobretudo como senador da república.
O período da década de 1920 no Brasil, foi um período de efervescência na sociedade brasileira, de escassa liberdade política onde em oposição ocorreram diversas rebeliões que transformações econômicas, políticas e sociais como as manifestações sindicais pró melhores condições salariais e de trabalho, rebeliões políticas pró liberdade de organização sindical e política, Semana da Arte Moderna, criação do Partido Comunista, o tenentismo, rebeliões sertanejas como o Contestado, a do Padre Cícero e a tirania do liberalismo que gera a crise de 1929, que por sua vez propicia a dita revolução de 1930, emergindo para um cenário de grande arrocho salarial e de falências, onde o Estado ao contrário do que se sucedia antes é chamado à financiar o café para queimá-lo... 
É, neste contexto, que Prestes começa a consolidar sua posição de liderança, principalmente após outubro de 1924 quando comandou o levante tenentista que saiu de Santo Ângelo rumo a Foz do Iguaçu, onde incorporou as tropas paulistas e marchou por cerca de 25 mil km durante dois anos e meio, com o intuito de fomentar  reformas políticas, econômicas e sociais,  esta foi a famosa Coluna Prestes. Se  o signatário discorda do papel da coluna Miguel Costa – Prestes em favor de reformas políticas e econômicas na velha República, que alternativas apresentaria?  
“Luiz Carlos Prestes […] causou graves prejuízos ao Brasil com o levante armado em 1935 dando forte pretexto para a implantação do Estado Novo em 1937”, sinceramente uma inverdade. Prejudicial ao país, foi a eliminação da Aliança Nacional Libertadora, A lei de Segurança Nacional, a prisão de Prestes para implantar o Golpe de 10 de novembro de 1937, o Estado Novo, que Prestes previu e ao qual se opôs ao custo de sua prisão e da entrega de Olga à Gestapo.
Dizer que o partido Comunista “deu mostras de total inabilidade política” é no mínimo um juízo de valor sectário. Como deveria então ter procedido o Partido Comunista? Mesmo durante seu período de ilegalidade, foi o PC quem puxou as lutas pelas transformações sociais que o povo sempre precisou e que a elite que o senhor defende tacitamente (ou não) vetou. Foram os teóricos comunistas que trouxeram um sopro de conhecimento científico de nossa realidade buscando soluções populares.
“Esse pseudomártir e  herói fabricado”, pensei em inúmeros heróis nacionais com o perfil descrito pelo senhor, e nenhum deles é Prestes... Num rápido exercício de memória podemos citar alguns: Tiradentes, José Bonifácio,  Bento Gonçalves, David Canabarro, Getúlio Vargas. Ser perseguido, preso, torturado, exilado, obrigado a viver como fugitivo e clandestinamente ao longo de quase setenta anos não é um martírio heroico, o que é?
Só porque a causa do Prestes avultava reformas políticas, econômicas e sociais, que não são da concordância do senhor Sérgio, não nos parece motivo para negar-lhe a sua verdadeira identidade histórica.

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