terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Não Tenho Tempo

A alguns dias conversando com o amigo Enori Chiaparini sobre algumas obras se não me falha a memória de Erich Fromm, entramos num debate acerca do ensino em sala de aula, e ele recitou um trecho de uma poesia que utilizava nas aulas do EJA, verbalizando as emoções que os alunos sentiam.
Sinceramente achei fantástica a poesia "Não tenho tempo" de Neimar de Barros, ela pode nos levar à uma reflexão sobre nossas vidas e sobre nossas rotinas. Por isso gostaria de compartilhá-la com os leitores do blog:

Não tenho tempo

Sabe, meu filho, até hoje não tive tempo para brincar com você.
Arranjei tempo para tudo, menos para ver você crescer.
Nunca joguei dominó, dama, xadrez ou batalha naval com você.
Percebo que você me rodeia, mas sabe, sou muito importante e não tenho tempo.

Sou importante para números, conversas sociais, uma série de
compromissos inadiáveis…
E largar tudo isso para sentar no chão com você… Não, não tenho tempo!
Um dia você veio com um caderno da escola para o meu lado. Não
liguei, continuei lendo o jornal. Afinal, os problemas
internacionais são mais sérios que os da minha casa.

Nunca vi seu boletim nem sei quem é a sua professora. Não sei nem
qual foi sua primeira palavra; também, você entende… Não tenho tempo…

De que adianta saber as mínimas coisas de você se eu tenho outras
grandes coisas a saber?

Puxa, como você cresceu! Você já passou da minha cintura, está
alto! Eu não havia reparado nisso. Aliás, não reparo em quase
nada, minha vida é corrida.
E quando tenho tempo, prefiro usá-lo lá fora. E se o uso aqui,
perco-me diante da TV. A TV é importante e me informa muito…

Sabe, filho, a última vez que tive tempo para você, foi numa
cama, quando o fizemos!

Sei que você se queixa, que você sente falta de uma palavra, de
uma pergunta minha, de um corre-corre, de um chute na bola. Mas
eu não tenho tempo…

Sei que você sente falta do abraço e do riso, de andar a pé até a
padaria, para comprar guaraná. De andar a pé até o jornaleiro
para comprar “Pato Donald”. Mas, sabe, há quanto tempo não ando a
pé na rua? Não tenho tempo…

Mas você entende, sou um homem importante. Tenho que dar atenção
a muita gente. Dependo delas… Filho, você não entende de
comércio! Na realidade, sou um homem sem tempo!

Sei que você fica chateado, porque as poucas vezes que falamos é
monólogo, só eu falo. E noventa por cento é bronca: quero
silêncio, quero sossego! E você tem a péssima mania de vir
correndo sobre a gente. Você tem mania de querer pular nos braços
dos outros… Filho, não tenho tempo para abraçá-lo.

Não tenho tempo para ficar com papo-furado com criança. Filho, o
que você entende de computador, comunicação, cibernética,
racionalismo? Você sabe quem é Marcuse, Mc Luhan?

Como é que vou parar para conversar com você? Sabe, filho, não
tenho tempo, mas o pior de tudo, o pior de tudo é que…
Se você morresse agora, já, neste momento, eu ficaria com um peso
na consciência, porque, até hoje, não arrumei tempo para brincar com você.

E, na outra vida, por certo,


Deus não terá tempo de me deixar, pelo menos, Vê-lo!


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Anticomunismo Patológico

O texto a seguir foi publicano na edição de ontem (16/01/14) no Jornal Voz:

No último dia 11 o Historiador Sérgio da Costa Franco em seu artigo “História de Prestes e Memorial” publicado no Jornal ZH, reverberou todo o seu anticomunismo patológico ao chamar de “ideia tão desarroada” a inauguração de um busto em homenagem ao camarada Luiz Carlos Prestes, e que seria uma afronta à a maioria dos portoalegrenses. Quando foi realizado este plebiscito? Quantas pessoas participaram.?
O articulista deveria ao menos dirigir-se com mais respeito à um homem que lutou contra as discriminações e a ditadura da Primeira República,  indo a favor do povo brasileiro, e também sugerir que se faça um pequeno apanhado sobre o cenário nacional que o Prestes estava inserido, ou quem sabe uma leitura sobre os seus projetos sobretudo como senador da república.
O período da década de 1920 no Brasil, foi um período de efervescência na sociedade brasileira, de escassa liberdade política onde em oposição ocorreram diversas rebeliões que transformações econômicas, políticas e sociais como as manifestações sindicais pró melhores condições salariais e de trabalho, rebeliões políticas pró liberdade de organização sindical e política, Semana da Arte Moderna, criação do Partido Comunista, o tenentismo, rebeliões sertanejas como o Contestado, a do Padre Cícero e a tirania do liberalismo que gera a crise de 1929, que por sua vez propicia a dita revolução de 1930, emergindo para um cenário de grande arrocho salarial e de falências, onde o Estado ao contrário do que se sucedia antes é chamado à financiar o café para queimá-lo... 
É, neste contexto, que Prestes começa a consolidar sua posição de liderança, principalmente após outubro de 1924 quando comandou o levante tenentista que saiu de Santo Ângelo rumo a Foz do Iguaçu, onde incorporou as tropas paulistas e marchou por cerca de 25 mil km durante dois anos e meio, com o intuito de fomentar  reformas políticas, econômicas e sociais,  esta foi a famosa Coluna Prestes. Se  o signatário discorda do papel da coluna Miguel Costa – Prestes em favor de reformas políticas e econômicas na velha República, que alternativas apresentaria?  
“Luiz Carlos Prestes […] causou graves prejuízos ao Brasil com o levante armado em 1935 dando forte pretexto para a implantação do Estado Novo em 1937”, sinceramente uma inverdade. Prejudicial ao país, foi a eliminação da Aliança Nacional Libertadora, A lei de Segurança Nacional, a prisão de Prestes para implantar o Golpe de 10 de novembro de 1937, o Estado Novo, que Prestes previu e ao qual se opôs ao custo de sua prisão e da entrega de Olga à Gestapo.
Dizer que o partido Comunista “deu mostras de total inabilidade política” é no mínimo um juízo de valor sectário. Como deveria então ter procedido o Partido Comunista? Mesmo durante seu período de ilegalidade, foi o PC quem puxou as lutas pelas transformações sociais que o povo sempre precisou e que a elite que o senhor defende tacitamente (ou não) vetou. Foram os teóricos comunistas que trouxeram um sopro de conhecimento científico de nossa realidade buscando soluções populares.
“Esse pseudomártir e  herói fabricado”, pensei em inúmeros heróis nacionais com o perfil descrito pelo senhor, e nenhum deles é Prestes... Num rápido exercício de memória podemos citar alguns: Tiradentes, José Bonifácio,  Bento Gonçalves, David Canabarro, Getúlio Vargas. Ser perseguido, preso, torturado, exilado, obrigado a viver como fugitivo e clandestinamente ao longo de quase setenta anos não é um martírio heroico, o que é?
Só porque a causa do Prestes avultava reformas políticas, econômicas e sociais, que não são da concordância do senhor Sérgio, não nos parece motivo para negar-lhe a sua verdadeira identidade histórica.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Relações humanas off line

Estou realmente ficando preocupado com os rumos que a sociedade da informação está tomando, na mesma balada em que destruímos barreiras de comunicação, encurtamos fronteiras, e tornamos o mundo uma rede de informações, as relações interpessoais humanas estão diminuindo, “nesse espaço de virtualidade, feito de bytes e luzes, a geografia física não importa, pois qualquer lugar do mundo fica a distância de um clique”. (Lúcia Santaella)
As reuniões entre amigos, as baladas e as próprias praças de alimentação agora contam com uma presença ilustre, o deus do século XXI o wi-fi, as conversas agora não são mais verbais, são por tweets, em pvts, snapchat ou whatsapp, mas cade a graça disso? cade o olho no olho? o aperto de mão? os sorrisos roubados? os cutucões? Se perderam com o advento dos smartphones.
A critica maior se faz, pelo fato das pessoas estarem automatizando esta prática, ela esta se tornando tão real, que temo que dentro de algum tempo as pessoas desaprendam a falar em público, ou com os familiares. Já é comum, pessoas conversando via celular ou computador com outras pessoas que estão na mesma casa muitas vezes no comodo ao lado, ou pior ainda no mesmo comodo.
Eu acho, que por mais benefícios que a tecnologia traga não devemos ou melhor nao podemos nos tornar reféns de celulares, tablets, iphones, smarthphones ou qualquer outros meios que excluam o contato real entre as pessoas.
Contudo, todavia, eis que, se não quando, não estou sugerindo que tais apetrechos sejam eliminados da face da terra, afinal, são eles que nos fazem manter contato com pessoas que gostamos e que estão a milhares de quilômetros de distância em outros estados ou países, e que não temos a oportunidade de interagirmos pessoalmente como gostaríamos, abraço, aperto de mão o olho no olho que está se perdendo.
Isso é claro gera uma contradição tendo em vista que encurta barreiras virtuais e aumenta as barreiras reais. E isso é o que eu acho mais preocupante, pois as crianças hoje praticamente são tiradas do ventre da mãe e ganham um celular para ficarem conectadas com seus amigos... mas aonde está a interação verdadeira de correr, pular e assim por diante? Porque ela está se perdendo?
Será que não estamos caminhando para um destino similar ao dos seres humanos na animação Wall-e ?
Sei que parece loucura, mas realmente não sabemos se num futuro muito distante nós teremos as máquinas ou se é elas que nos terão?
Há de se pensar nisso... 

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Mais do Mesmo

Um novo ciclo vai se iniciando, 2014, como todos os anos anteriores, vem carregado de promessas, e de desejos comuns, entrar na academia, diminuir o consumo de álcool, ser menos intransigente, arrumar uma companhia, emagrecer, viajar, e ler mais, as promessas e os desejos não mudam, sinceramente nós os desejosos também não mudamos, continuamos catedráticos em algumas práxis do nosso modus operandi.
Ou seja, mais do mesmo...
Ao longo dos últimos dias do ano, as redes sociais, os jornais, as revistas, a televisão e o rádio se enchem de prospects dizendo que tudo vai ser diferente, que este vai ser o melhor ano de todos.
Ou seja, Mais do mesmo...
Todos os anos nos enchemos de esperanças e acreditamos que realmente vamos fazer diferente.
Ou seja, mais do mesmo...
Mas o que dá errado? Porque a maioria das promessas e dos planos não saem do mundo das idéias? Me permitindo fazer uma análise simples, mas não simplória, é porque nossa zona de conforto é maior que todos estes planos, uma hora de academia á facilmente substituída por uma hora em frente a televisão vendo novelas regada a guloseimas, afinal não se pode ficar em frente a televisão sem estar mastigando algo. Outro caso clássico é o da leitura, nos propomos a ler, mas as redes sociais hipnotizam, não existe possibilidade de ficarmos meia hora a menos por dia curtindo e compartilhando, para ler, nem que seja a bula de um remédio.
Ou seja, mais do mesmo...
Não existe uma receita universal que seja capaz de de tira do mundo das ideias aquilo que queremos modificar ao longo do ano. O que existe, chama-se força de vontade e motivação, que podem ser consideradas força motriz para a obtenção do sucesso dos planos para o ano novo.
Depende única e exclusivamente de cada um de nós para que não caiamos novamente e mais uma vem na máxima "mais do mesmo".