A muito tempo tenho pensado em escrever algo sobre a Revolução Farroupilha, mas geralmente freio esta ideia pelo fato de ter muitos amigos e familiares que cultuam o tradicionalismo acerca desta data, inclusive, fiz parte deste movimento durante um período de minha vida.
Muitos pensam que o meu afastamento deu-se pelo fato de estar cursando Licenciatura em História - contribuiu, mas não foi o fator principal - na realidade ocorreu de uma forma "beligerante", por eu não concordar com algumas posições dos donos dos ctgs, digo donos, porque algumas pessoas tem esses locais como extensões de sua propriedade, muitas vezes tratando aqueles que são voluntários como empregados. Afinal como diz Zapata "Quero morrer sendo escravo dos princípios, não dos homens".
A partir disso, passei a nutrir várias ressalvas com relação a este movimento, minha crítica se dá principalmente pelo tratamento dispensado à algumas pessoas e principalmente as inconformidades históricas cultuadas. Primeiramente, apenas Rio Grande do Sul e São Paulo cultuam guerras perdidas, mas especificamente no caso riograndense, sabe-se que:
O passado re-apresentado no presente (e pelo presente), como bem observa Diehl, “passa a ser entendido como meio de afirmar e de reabilitar processos de identificação,ou pelo menos de cumprir a função de que nos seja permitido (sobre)viver culturalmente no presente, reorientando o horizonte de expectativas.” (DIEHL, 2007:11) Desta forma, compreendemos que a memória – enquanto diálogo de um determinado presente com o passado -, exerce papel fundamental na construção identitária de um grupo, na medida em que assegura sua continuidade no tempo histórico. Atualizando o passado, o presente tem condições de conhecer (e reconhecer) a si próprio no tempo, de situar-se nele e de projetar-se no futuro, ou até de antecipá-lo. Neste sentido, busco compreender de que forma a rememoração da Revolução Farroupilha serviu de alicerce. (SILVA, CAMILA. História, memória e comemoração no Centenário Farroupilha.)
Mas que passado é este, tão glorificado atualmente? ele realmente existiu? o que há de verdade na nossa história? Perguntas pertinentes que tocam fundo na chaga tradicionalista, do mito do gaúcho e dos "heróis" farrapos Bento Gonçalves, Davi Canabarro, Antonio Neto, dentre outros. Se esquece de muitas coisas que com certeza fazem muita diferença, como por exemplo o fato de Bento Gonçalves praticar ou roubo de gado, de apregoar o fim da escravidão os negros que lutassem ao lado dos farrapos, deixou dezenas de escravos aos seus herdeiros (contraditório não?), ou pelo fato de Davi Canabarro trair seus homens ao levá-los desarmados e separados dos restantes das tropas à um descampado onde foram trucidados pelo exército imperial.
A batalha acima citada é a de Porongos e estes guerreiros/soldados eram os lanceiros negros bravos e leais escravos que lutavam pelos interesses de seus patrões e de sua tão sonhada liberdade, mas foram alijados disso pelo infame Davi Canabarro que hoje é um herói farrapo, mas que esconde em suas mão rios de sangue inocente.
Minha crítica é pelo desconhecimento da história e pela mitificação de algo que nunca existiu, não pelo menos da forma que é propagada aos quatro ventos. Por mim podem continuar assando carne, dançando, ouvindo música e interagindo isso é salutar na sociedade individualista moderna, contudo gostaria que pelo menos tomassem ciência de que a o que está exposto neste movimento não condiz com a realidade dos fatos...
Uma pena que estes cultuadores não tenha assistido o Mobiliza (programa da TVE) da última terça feira que debateu este assunto...