quarta-feira, 26 de junho de 2013

Depredando o Espelho

Hoje publicaremos na íntegra um texto do Prof. Ernesto Cassol chamado "Depredando o Espelho" que saiu na edição de hoje do Jornal Bom Dia:

Em minha já não curta cronologia, e tendo visto e ouvido muitas e ruins, jamais se me deparara com uma deformidade de anarquismo despótico como me tocou ver no panfleto que me convidava a “sair do comodismo e lutar contra a corrupção”, em Erechim, 26/03/13. Alguma “ mão invisível” a serviço de algum Pinochet (General cujos tanques “destocaram” o Chile há quarenta anos para M. Friedmann “experimentar” seu neoliberalismo) latente ordenava: “nenhum partido nos representa, não são aceitas bandeiras partidárias ou de movimentos sociais.” Sim, a manifestação deveria ser “ pacífica, contra a impunidade, contra a PEC 37, PEC da Impunidade.”
Esperei, finalmente ha mais de trinta anos, o STF, com seu presidenciável atual presidente, “de notável saber e ilibada conduta”, usasse contra torturadores e violadores de direitos humanos idêntica norma e procedimento que estardalhou contra os réus do dito Mensalão – Ação 470/12 – às vésperas do pleito de 2012. Que julgasse também os Arruda, os Azevedo...
Muito cartaz, muita net, muita violência exigindo saúde, segurança, escola “Padrão FIFA”. Por que esta exigência só agora, coincidindo com a Copa das Confederações? Mesmo que a matéria seja discutível – e é – porque só agora a reclamação? Tiveram anos para fazê-lo via sindicatos, partidos, via net, igrejas, OP, indo às ruas … Só agora se lembraram de fazê-lo “casualmente“ as vésperas da Copa de 14 e da eleição de 2014 que decide a essência do poder, da política, da economia, no Brasil. Não há almoço grátis, nem manifestação gratuita. Muitos candidatos que não se “corromperam” com partidos políticos ou movimentos sociais, não foram vistos contra a Ditadura e nem contra a Privataria, agora gritam e depredam contra a corrupção. Falta definir o que é corrupção, quem são os corruptos, quem julga e com que base, té para não bradar estentoreamente “os culpados serão castigados” como perorava Plínio Salgado em tempos nazifascistas que sempre vicejam na sociedade de classes, como mostram W. Reich, B. Brecht e mais recentemente C. Gavras no filme O Corte.
O Anarquismo faz o meio de campo involuntário (?) para preparar gratuitamente o terreno paras os monopólios assumirem, mesmo através do estado totalitário de direita, de um Franco, de um Mussolini. Turvam-se propositalmente as águas para depois aparecer algum “Salvador”, cm ou sem estrelas ao ombro para então dispensar partidos, sindicatos, movimentos sociais... Botar ordem! E Sísifo volta ao fundo do abismo por várias gerações...
O que é mesmo corrupção? O que seria uma Proposta política ampla a justificar tão estreptosa descida às ruas? O Movimento vai além do mero desabafo vagamente moralista que não atura mosquito mas engole camelo! Propõe reforma política? Propõe o fim do financiamento privado das campanhas políticas, que o velho regime militar ainda com Golbery, consegui pespegar na Constituição de 1988, (que o PT não assinou, mas respeita) transforma o voto em mercadoria leiloável? Esta a raiz da corrupção eleitoral, do caixa dois que nem o Dr. Joaquim Barbosa viu. E por que os agora e só agora raivosos eletrônicos jamais agitaram sequer o dedo mindinho contra? Podiam tê-lo feito nos mais de trinta partidos, nos vários sindicatos, nos movimentos sociais, nos diretórios acadêmicos, nas igrejas, no judiciário, na imprensa, no botequim, no instituto de beleza... Não o fizeram e agora deletam tudo o que ali está! Ninguém os representa... A quem representamos prédios, os carros, e vidas estraçalhadas?
Propõe reforma agrária? Propõe reformas econômicas? Mudanças na propriedade dos bancos? Da indústria? Do comércio? Vamos dominar a inflação congelando preços e estoques? Será corrupção alguém engordar um suíno, boi ou frango com anabolizante em cinco meses ao passo que outro, sem métodos espúrios, demora seis meses para alcançar idêntico resultado e, portanto, está na rota da falência! Sim, “o crime” compensa. A lei eleitoral força, seduz à corrupção. Esta a “mega casca de banana” que o sistema nos legou para que nela escorregássemos, fossemos acusados e condenados, houvesse a gritaria anti corrupção, “apartidária” e ali vem alguém em nome da moralidade, como Mal Castelo Branco, “botar ordem”, comandar sem precisar de eleição, nem de voto, nem do dinheiro da Odebrecht, da Camargo Correia, dos bancos... É moral alguém ganhar um milhão de salário (Neymar?) e outros, SM? O que e como fazer? Quem ao longo de anos atribuiu milhões de votos a Sarney, Collor, Calheiros, Maluf, Tiririca, Felicianos... Sim, o parlamento também espelha a sociedade, o eleitorado! O vírus da corrupção, a lei de Gerson, está entre nós, sim! Quebrar o espelho não melhora a cara. Se o movimento, em parte, é ingênuo, respeitável, é muito possível haja os que, turvando as águas da Copa, criticável, e das eleições 2014 almejam, de maneira astuta e gradativa, a reversão, a perda de tudo quanto a Ditadura e a privatização da encarquilhada Nova República nos afanaram.
Antes de ir às ruas, vamos aos sindicatos, partidos, movimentos, entidades estudantis, igrejas conhecer a realidade, as necessidades, formular propostas e projetos, com participação da cidadania, e não exclusão fascistoide e ignorante. Juremir M. da Silva em texto no C. do Povo, 22/06/13, observa muito bem, como já detalhara, com discernimento, o falecido R. A. Dreifuss em O Jogo da Direita.
Nós não temos saudade da Ditadura, nem de Collor, nem de FHC. Uma sociedade de classes logicamente deve espelhá-las dialeticamente via suas entidades. Dentro desta realidade cabe agir, mudar, corrigir. Não se vai à rua sem proposta, impunemente. Caso se queira ter uma boa imagem, cabe produzi-la e não culpar o espelho, A construção de uma sociedade plenamente democrática, econômica, politica e culturalmente exige muito empenho, paciência correções. Individualmente este compromisso sessa na missa de trigésimo dia...A reação da Pres. Dilma e Gov. Tarso parece-me basicamente correta, querendo ouvir, ensejando a participação, mesmo quando estas manifestações não buscam diálogo, mas até provocam e agridem patrimônio alheio e os policiais para poderem se exibir como “mártires”... Quanta diferença de um passado não muito distante e nada saudável que está a espreita e até alega que fará mais e melhor mas, não diz exatamente como, o que, e porque sua identidade carece de nitidez.


P.S. Como pretender candidaturas “apartidárias” numa sociedade profundamente dividida, onde temos um Eike Batista e uma miríade de ricaços, onde temos, em cada cidade uma Jurerê Internacional, onde os monopólios da comunicação fazem “ mentes e corações” através de seus cronistas, analistas e chargistas, onde o poder econômico e de comunicação constrói e destrói conforme seu entendimento e interesse, o candidato “apartidário” apenas escamotearia seu partido, do Kap e ou alguma igreja ou grupo que, mediante pirotecnias midiáticas, revelará sua verdadeira face e garras...

terça-feira, 18 de junho de 2013

Instabilidade

Num momento em que as atenções mundiais estão voltadas  para o Brasil devido a realização das Copa das Confederações, manifestações pacíficas e não pacíficas invadem Brasilia e das avenidas das capitais. Até Erechim teve pneus queimados ontem ao lado da prefeitura.
É ótimo ver o povo saindo à a rua protestar por um zilhão de coisas, o que me assusta é esta instabilidade que está se gerando, algo similar ao que aconteceu em 1964, volto a dizer protestar é legítimo desde que não descambe para a barbárie. É um absurdo policiais baterem e manifestantes, é mais absurdo ainda manifestantes queimarem carros e depredarem o patrimônio público.
Qualquer que seja a forma de violência de qualquer uma das partes faz sua função perder a legitimidade, a função dos policiais é proteger e não bater, dos manifestantes é protestar pelo que acham correto e não depredar o patrimônio de outrem seja ele público ou privado.
Me preocupo com os caminhos que isto está tomando.
Precisamos fazer uma reflexão acerca de tudo que está acontecendo, despindo-se de pré conceitos, pois sinto que mesmo o povo indo pra rua não está lutando só pelos seus direitos, mas também fortalecendo os movimentos reacionários neoliberais que pregam o estado mínimo. 
Jogar o projeto de governo dos últimos onze anos em uma vala de descrédito é ignorância e falta de memória, afinal a "privataria" do PSDB ocorreu muito antes do "mensalão" do PT e não foi julgada porque atingiria gente muito poderosa dentro do Brasil, os mesmos que hoje pagam de santos imaculados de conduta ilibada. Mas partindo para o que realmente importa ações claras de desenvolvimento nacional, quem tinha bolsa de estudos gratuitas em universidades? Quem foi o responsável pela interiorização do ensino superior? Quem foi o responsável pelo pagamento da dívida externa do Brasil? Quem transformou o Brasil de um país devedor para um país credor? Quem conduziu o país durante para águas clamas mesmo com a crise de 2008?
Última pergunta o projeto anterior que geria o Brasil era o mesmo que conduzia a Argentina, o que aconteceu com a Argentina???
Não é só pelos R$0,20...
Concordo plenamente, mas quais são as principais aspirações destas manifestações? A quem elas realmente atendem? Será que o povo novamente não está sendo utilizado como massa de manobra para interesses escusos?
Vale a pena fazer essa reflexão para aí sim sair a rua e protestar com o povo e pelo povo.

domingo, 2 de junho de 2013

Parem o mundo que eu quero descer?

Quantas vezes lemos, escutamos ou mesmo proferimos a expressão "parem o mundo que eu quero descer?"
Sinceramente, centenas de vezes.
Mas realmente o que ela quer dizer?
Creio que seja uma expressão em tom de desabafo devido a alguma situação específica ou a um somativo de fatores que nos desagrada ou mesmo pela rapidez com que ocorrem em nossas vidas.
Hipoteticamente falando, parar o mundo resolveria estas situações?
Não, não resolveria. Afinal estas situações geralmente são decorrências de nossas atitudes ou de nossa práxis.
Estamos suscetíveis a problemas em nossa jornada, nos cabendo geri-los. 
Por mais complexos que pareçam eles são fundamentais para o nosso desenvolvimento, pois testam nossos limites e nossa resiliência.
Ok, tem momentos que precismos nos desligar de tudo para nos reencontrarmos ou recuperarmos o foco. Cada um busca essa introspecção à sua maneira. E, enquanto estamos buscando esta tranquilidade para resolvermos nossos problemas o mundo continua girando.
Mas o que  precisamos para não proferir a expressão "parem o mundo que eu quero descer"?
Precisamos ordenar nossos pensamentos e levarmos a cabo a ideia de resiliência, estabelecendo novas metas e varrendo tudo aquilo que nos apequena.