Existe uma tradição brasileira que se consolidou ao longo das últimas décadas como sinônimo de final de ano, o especial do Roberto Carlos na RGT. Nesse ano, estamos fomentando mais uma: a postagem de mea culpa nesse blog. "Ainda não tenho tempo para escrever...", é mais um esforço desta carcaça para alimentar essa página, bem como discorrer sobre algumas elucubrações que fiz ao longo dos últimos dias acerca da nossa realidade político social em âmbito federal e estadual.
Para não perder o hábito, começo o texto propriamente dito fazendo um mea culpa por eu ser relapso com esta página, mas confesso, que não ando com muita disposição para escrever, tendo em vista o cenário temerário que estamos vivendo. Por mais que eu esteja fazendo terapia, ainda não tenho paciência para lidar com as reações de algumas pessoas quando leem aquilo que escrevo e principalmente quando tomam ciência de meu posicionamento enquanto cidadão e licenciado em História.
A cegueira seletiva que encontramos nas redes sociais me incomoda por demais, afinal, estamos mergulhados em uma profunda crise político institucional que se espraia pela ética, pela moral, e pela economia estadual e nacional, mas os paneleiros de outrora, que vociferavam o fim da corrupção, se calam perante as "reformas" que o governo Sartori e o governo Temer estão propondo para tirar o estado e a nação do fundo do poço, mas que em essência nada mais são que sangrias aos direitos sociais que estão / estavam garantidos na Constituição Federal de 1988. Isso me leva a crer que o problema do Brasil, para os camisetas verde e amarela, era o Partido dos Trabalhadores, mais especificamente a presidenta Dilma Rousseff.
Nestes últimos meses, temos visto e sentido na pele os efeitos do GOLPE a paraguaia que o pais passou, a economia, regrediu, o pré sal foi vendido a troco de pinga para o capital internacional, seis ministros do novo desgoverno foram exonerados ou pediram demissão nos primeiros seis meses, todos com acusações relativos à atos ilícitos, o senado peitou o STF, tanto a câmara quanto o senado, com o aval do Temer, estão tentando implodir a Lava Jato, exatamente o contrário que a presidenta Dilma fez, não lembro dela ter se oposto aos trabalhos dessa operação, afinal, quem não deve não teme.
O que dizer então da PEC 241 / 55? Ouvi tanta coisa de pessoas que se consideram esclarecidas me deixaram estarrecido, por tamanha desinformação. Quando organizamos a aula pública na praça da Bandeira intitulada "Nenhum Direito a menos" ouvi expressões do tipo "vai trabalhar", "vagabundo", "vai ler a PEC". Bom, eu já tinha lido, mas por desencargo de consciência, li novamente, e isso reforçou meu posicionamento veementemente contrário a esse crime constitucional. O próprio assessor jurídico do senado considerou-a anticonstitucional, por um elemento que nem estava tanto em cena: a impossibilidade de escolhermos um plano de governo, independente da sua concepção político ideológica, por que a PEC do fim do mundo limita os gastos públicos em saúde e educação.
Ai é que vem o problema, pois o discurso midiático e a propaganda ideológica do governo, estão vendendo, e muito bem por sinal, dizendo que isso vai diminuir a a crise. Estamos, na realidade, frente ao desmonte do estado de bem estar social brasileiro. essa PEC desvincula os gastos em saúde e educação da arrecadação, ou seja mesmo que o Brasil tenha crescimento econômico estes gastos serão decrescentes, o que gerará em poucos anos, o sucateamento destes serviços que já são claudicantes.
Não vou me deter na MP 746/16 que reforma o ensino médio, nem o caso da aposentadoria do Jardel, pois eu teria material para escrever até 2017, mas ai minha dissertação vai para o espaço e esse texto vai ficar impossível de ser lido.
Indo para os ritos finais, não posso deixar de citar o acidente aéreo ocorrido na semana passada na Colômbia e que vitimou 71 pessoas, incluindo atletas e comissão técnica da Chapecoense. Tive um misto de sensações que passaram de consternação para decepção, por ver a tragédia ter se tornado um espetáculo mórbido em busca de likes e de audiência. O que me entristece ainda mais, é o desrespeito pela dor alheia, pelo luto e pela privacidade destas famílias. Passei a me questionar, se esse acidente não tivesse "famosos", ele teria tomado estas proporções?
Eu "ainda não tenho tempo para escrever", porque não aguento essa batalha por likes, por supremacia de opinião e a argumentos chulos, sem embasamento e muitas vezes sem compromisso com a verdade, e é por isso que ainda não tenho tempo para escrever, viver consome todo ele...